Proponho aqui a idéia de que a memória de cada pessoa deva serregistrada e exposta de tal forma que, ao longo das gerações, qualquer umtivesse acesso, inclusive com o código genético de quem vivenciou asrespectivas memórias. Isto finalizaria, com o contato com estas informações,viabilizar a absorção destas memórias e a reconstituição de um status evolutivoindividual, resgatando uma condição já atingida em uma vivência anterior.
Isto parece já ocorrer na evolução natural do homem, através datradição cultural e atualmente de forma revolucionária a partir dos dadosdisponibilizados publicamente na internet, com o registro de memórias,pensamentos, diálogos e fotos de cada um. Porém este processo poderia seradministrado para que evolua de forma mais racional e ordenada.
Um indivíduo que possua um determinado código genético iráinteragir com o mundo quando o seu aparato sensorial começar a captar o que ocerca. Em determinada fase de seu desenvolvimento terá certa consciência de suaexistência e do mundo em que vive, tratando-se de uma pessoa comdesenvolvimento psicológico normal.
Outro indivíduo que possua o seu mesmo código genético, nestemesmo nível de desenvolvimento, distinguir-se-á de seu clone em virtude destavivência distinta. A individualização ou singularidade existencial de cadaindivíduo faz-nos crer e desejar que a correspondente identidade tem algumaimportância, igualmente singular. Todavia, para a natureza, nós temos a mesmaimportância que todo e qualquer animal ou agrupamento de moléculas que semovimenta no espaço e interage com todo o resto.
Tudo o que o nosso corpo encerra, nossas memória, expectativas,crenças, tudo tem valor apenas para nós mesmos, e isto é a única certeza quenós temos a cerca de nossa existência. Nossa individualidade é um momentoespecifico de nossa percepção da fruição do mundo. È esta percepção limitadaque encerra tudo aquilo que julgamos importante, mas que na verdade não é maisespecial do que todo o resto.
Assim, concluo que não devemos esperar que o mundo estejaplanejando algo especial para cada um de nós. Concluo e acredito que este mundoque independe de nossa percepção e de nossa existência tem sua própria dinâmicae terá o seu próprio fim que será o nosso também.
Aquilo que julgamos importante é o que nos faz ser o que somos,que nos individualiza que nos faz acreditar que somos singulares. Se queremosque nossa existência tenha algum significado, devemos construir estesignificado e preservá-lo, pois o relógio está correndo, e quando este universoterminar o seu ciclo, o nosso tempo terá se esgotado.
Tudo o que somos e construímos e que está registrado de algumaforma neste mundo minuciosamente, em minha crença, será reciclado etransformado em outra coisa independentemente do que queremos ouacreditamos.
A partir desta idéia deduzo que há um ciclo que inevitavelmentenos levará a um momento derradeiro do qual não poderemos escapar a não ser queentendamos o mundo em que vivemos. De uma perspectiva mais ampla, e de teoriasfilosóficas e físicas, há a possibilidade de haver um mundo macro no qual nossouniverso tenha se iniciado e em que irá terminar.
Assim, a preservação de sua existência, diante deste ciclo, iniciadocom o big bang, será o grande desafio da humanidade. Tudo que consideramos noscaracterizar como seres singulares e especiais terá que ser preservado quandodo final do ciclo deste universo com a migração de nossas memórias para um outrouniverso onde seja possível o restabelecimento da vida.
Assim, deveríamos lutar, nos esforçarmos para entender eresgatar tudo o que faça parte de nossa existência e preservar aquilo queacreditamos que nos faz especiais, ou seja, nosso código genético, nossalembranças, a estória de vida de cada um, pois somos todos uma flor rara esingular tão somente aos nossos próprios olhos, pois sem nosso olhar este valorsimplesmente desaparece para o mundo e nos tornamos como qualquer outro punhadode matéria.
Dito tudo isto, proponho um método com medidas práticas para quepossamos tentar dar procedimento ao processo de preservação das memórias devivências e de uma associação da existência material, segundo o códigogenético, com as memórias vividas pelos indivíduos com DNA semelhantes ouiguais.
Se somos um código genético somado a uma experiência de vidavivida através da percepção sensorial, então se conseguíssemos fazer com queesta experiência fosse assimilada por indivíduos com mesmo código genético,então aquele nível evolutivo individual de uma existência específica seriapassível de ser restabelecida.
Um indivíduo com determinado código genético conhece o mundo, nofinal de sua vida, o seu corpo morre e suas lembranças também. Todavia se suaslembranças não morressem então elas poderiam ser assimiladas por outrosindivíduos com o mesmo código genético. Isto já ocorre com a tradição cultural,com o desenrolar das gerações pessoas vão morrendo e outras vão nascendo comocélulas de nossa pele que vão se renovando para que haja uma renovação dotecido social e o organismo assim possa sobreviver de forma sadia.
É como se nossa morte funcionasse como uma amnésia, a partir doqual reinicializamos para, através da assimilação da cultura, novamentepudéssemos continuar de onde paramos aquilo que iniciamos em outra vida que jáse foi. O que tento evidenciar é que este processo de reinicialização poderiaser mais eficiente.
Ou seja, não precisaríamos reinicializar do zero. Poderíamosdesenvolver formas e métodos de ajudar os indivíduos a restabelecer suavivência anterior, assim como alguém que por alguma razão perdeu a sua memóriae teve que restabelecer sua vida novamente.
Esta perspectiva é muito interessante, pois alguém que temamnésia não morreu, só perdeu sua memória e precisa relembrá-la para poderrestabelecer a normalidade de sua vida. A partir desta conclusão, vejo de formamuito persuasiva a afirmação de ser incoerente considerarmos que morremos, outerminamos, só, pois nossa existência material foi suspensa e reinicializou semas memórias. Assim poder-se-ia afirmar que amnésia não corresponderia à morte,bem como, morte, poderia ser vista como um tipo de amnésia.
O método que proponho, e este é o ponto onde quero chegar, seriaa partir da construção de uma cultura segundo o qual a memória de cada indivíduofosse registrado e exposto de tal forma que indivíduos ao longo das gerações aoterem contato com esta informação acabassem por absorver estas memórias e assimviabilizar uma reconstituição do nível de desenvolvimento individual através doresgate de memórias individuais de indivíduos que já partiram e com DNAsemelhantes ou iguais aos de seus sucessores. A morte assim passaria a serconsiderada como uma suspensão da existência material de um determinado códigogenético e que poderia ser restabelecido através da sua associação comdeterminadas memórias.
Como já referi, isto parece já ocorrer espontaneamente com atradição e parece que irá ocorrer de forma mais eficiente com a internet,através dos sites que possibilitam registrar as memórias de cada um. Porém esteprocesso poderia ser administrado para que evolua de forma mais racional eordenada. Para que isto funcionasse com sua máxima eficiência dever-se-ia criaruma identidade genética para que cada indivíduo fosse capaz identificar seus“gêmeos” com maior facilidade e assim resgatar a existência passada, erestabelecer o patamar evolutivo individual anteriormente conquistado.
Assim, considero racionalmente aceitável a crença de que nósnunca morremos, ou seja, estamos sempre neste mundo que conhecemos, sendo quenossa percepção desta existência acaba por suspender-se na sua condiçãosingular, com a dissociação de determinadas características individuais dasrespectivas lembranças e memórias, quando nossa existência material é suspensa,fazendo com que houvesse uma descaracterização de nossa existência singular.
Se assim for, isto não precisaria ocorrer, não precisaríamosabdicar de um nível evolutivo individual por esta dissociação entre existênciamaterial e memórias. Poderíamos criar uma forma mais eficiente de estabelecerum status preservando e resgatando o que julgamos tão importante e que vem aser o reflexo de nossa existência singular, ou seja, todas as vivências aolongo das gerações.
De outro lado, concluo que haverá um momento derradeiro em nossaexistência em virtude da dinâmica de nosso universo e que apesar disto,partindo-se da idéia de uma estrutura macro no qual o nosso universo sejainserido, acredito que seja possível que nossa memória seja migrável para alémdeste suposto ciclo de vida do universo.



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